Estágio e possibilidade para um desenvolvimento equilibrado.
Airton Luiz Faleiro
Nos últimos anos muito tem se debatido sobre o modelo de desenvolvimento na
Amazônia. Nas outras regiões do país também vem ocorrendo esse debate. Mas na
Amazônia o enfoque é diferente, pois o atual estágio do desenvolvimento é diferente, pois o
atual estágio de desenvolvimento e o grau de intervenção na exploração dos recursos
naturais estão em outro patamar em relação às demais regiões.
Na Amazônia se concentra a maior massa florestal continua e o maior estoque de
biodiversidade do planeta. As mais importantes bacias de água doce do mundo também
estão nessa região. Todos esses recursos estão ainda num estagio de exploração parcial com
ameaças de esgotamento ou desequilíbrio em alguns casos , mas tudo em condições de
reversibilidade.
Essa realidade nos permite projetar um desenvolvimento equilibrado do ponto de
vista econômico, ambiental e sócio cultural. Um outro fator a ser considerado dentro das
possibilidades de projeção de um desenvolvimento equilibrado é o avanço dos segmentos de
esquerda nos governos da Amazônia, como exemplo, governos no Acre e Amapá, prefeitura
de Belém... e muitos municípios importantes na Amazônia.
A identidade que esses grupos políticos tem com as estratégias de desenvolvimento
a partir da valorização dos recursos naturais da região e inclusão das camadas sociais, por
natureza, mais comprometidas com as modalidades sustentáveis de desenvolvimento,
fortalece politicamente a via de desenvolvimento equilibrado.
Um dos sujeitos importantes que se destaca nesse processo são os produtores
familiares rurais (agricultores, extrativistas, pescadores artesanais, populações indígenas,
entre outros). O papel relevante desse segmento produtivo está relacionado ao numero
elevado de unidades familiares intervindo no meio rural e o impacto que isso pode causar
tanto no equilíbrio como no desequilíbrio de ecossistemas, solos, recursos aquáticos e
florestas.
Conta a favor da concepção de desenvolvimento equilibrado o fato dos principais
segmentos envolvidos nessa via de desenvolvimento terem um grau de organização,
proposição e implementação prática de projetos produtivos bem adiantados.
Estudos realizados e a própria experiência dão conta de que a natureza da atividade
dos produtores familiares rurais é mais compatível com a regeneração e conservação dos
recursos naturais do que os segmentos de grande porte que exploram os recursos com
práticas extensivas.
A afirmação de um desenvolvimento equilibrado passa por enfrentamentos com as
concepções tradicionais de desenvolvimento, baseadas nas desenvolvimentistas ou por
visões oportunistas que se apropriam do discurso ambientalista e até revestem seus
empreendimentos de alguma maquiagem ambiental, mas que na essência reproduzem os
modelos de concentração de renda, de empobrecimento e de depredação das bases de
recursos naturais.
Nesse cenário de disputa de concepções, os grupos econômicos condutores da
concepção desenvolvimentista continuam sendo beneficiados pelas macropoliticas de
investimentos públicos.
O PPA 2000 – 2003, que expressa a programação de obras e recursos a serem
aplicados nos Eixos de Desenvolvimento da Amazônia, sob a marca do Avança Brasil, privilegia segmentos e atividades econômicas contraditórias com a versão de
desenvolvimento equilibrado.